Por Osvaldo Ferraz – Business International
Comecei este artigo com um título do jornal folha.uol: “Plano Real faz 25 anos com nota de R$ 100 valendo R$ 16,40”. Algumas perguntas surgem recorrentemente, mas as mais frequentes são: Como isso aconteceu? Porque aconteceu? Vai continuar acontecendo? E o que isso me afeta? (Tanto como pessoa física quanto pessoa jurídica).
Explicando de forma simples, antes de 1994, o Brasil vivia o período mais turbulento da história, tanto economicamente, quanto politicamente. Tínhamos inflações que chegavam a patamares de 5.000% ao ano (julho/1993 – junho/1994). Isso quer dizer que se você tivesse R$100,00 em julho de 1993, no ano seguinte no mês de junho, seria equivalente a menos de R$0,13 centavos.
Então é bom em 25 anos termos apenas 83,6% (508% de inflação) de desvalorização do REAL?
Claro que não, pois se compararmos com um país estável como por exemplo os EUA, nos últimos 11 anos eles tiveram em torno de 17,75% (20%de inflação) de desvalorização da moeda americana, ou seja, $100,00 em janeiro de 2009, valia $82,25 em janeiro de 2020, bem diferente, não?
Relacionando com a dívida a receber de uma empresa, imagine que em 2016 você vendeu sua mercadoria para um cliente, porém estamos em 2020 e ele ainda não te pagou, quanto vale este dinheiro hoje, mesmo se ele te pagasse o valor inicial da dívida?
Vamos a uma conta simples. Em 2016, a cada $100,00 de vendas de exportação que entrava na empresa, no final deste mesmo ano, retornava $120,00, com um ROI (Return on Investment) de 20% a.a.
Por outro lado, supondo que não houve o pagamento destes $100,00. A empresa deixou de investir, e desde 2016 até hoje, num período de 4 anos, poderia ter obtido um retorno de R$207,36.
Outro fator importante que ressalto é o patamar do dólar, hoje em torno de R$4,20. Vamos supor que você tenha exportado em 2015, onde neste mesmo mês de janeiro daquele ano, o patamar do dólar era de R$2,65, e o cliente estrangeiro não pagou. Recuperado no cenário de hoje, este mesmo valor, não valeria o dobro da sua venda?
A resposta é sim. Exemplificando em valores, significa dizer que em 2015 sua empresa exportou $100.000,00 a R$2,65. Se o seu cliente te pagasse no ato da entrega, você receberia algo em torno de R$265.000,00, mas se ele te pagasse hoje aqueles mesmos $100.000,00, sua empresa receberia em torno de R$420.000,00 reais. Uma diferença positiva de R$155.000,00 apenas pela valorização cambial.
Afinal, qual o melhor momento para receber sua dívida no exterior?
O primeiro ponto a destacar é o tempo, costuma-se dizer que o importador devedor, paga o fornecedor mais “chato” primeiro, pode parecer cômico, mas é fato! “Recebe mais quem se faz mais presente”, portanto, além da inflação e o ROI da sua empresa, deve-se procurar a melhor maneira de cobrá-lo, de preferência no país de origem da dívida, conhecendo as leis e os hábitos culturais.
Segundo ponto, o patamar do dólar. Se sua situação é similar ao exemplo citado neste artigo, é um bom momento de reaver os seus créditos não pagos no exterior, como forma de amenizar o prejuízo e tirar proveito de uma melhor negociação em consequência da alta do dólar, cotado a R$ 4,20. Se recuperar 100% do valor então, pensando por cada dólar, pode até lucrar sem a necessidade de nenhum investimento operacional ou administrativo extra.
Dito isto, se você tem algo para receber no exterior, chegou a hora de reaver a sua provisão de dívidas duvidosas e aumentar os esforços de localização e negociações, pois quando falamos de exportação, os valores hoje são baseados na cotação do dólar, que é flutuante, e sabemos que por mais que as projeções sejam favoráveis, o futuro, deve-se inverter com a estabilização econômica. Além disso, “Time is Money”.
Fontes: Inflation Calculator, UOL Economia e Folha