O planeta é grande e a evolução e sobrevivência da nossa espécie estão intimamente ligadas a padrões de comportamento de diversos grupos isolados de indivíduos que acabaram por definir suas identidades, únicas, através da cultura de diferentes hábitos e crenças.
Escandinavos, Árabes, Balcânicos, Ibéricos, Chineses, Andinos e uma infinidade de outros povos com conjuntos culturais próprios estão espalhados pelo mundo e você, que faz ou quer fazer parte da comunidade internacional de negócios, pode se pegar tratando de algum deal com eles, a qualquer momento.
Melhor saber que existem diferenças culturais que vão muito além da culinária exótica daquele lindo país da capa da revista de turismo, ou apenas do jeito de dizer “oi” para um gringo na hora de encontra-lo num lobby de hotel para negociar as condições de um novo contrato que promete ser uma boa oportunidade para sua empresa.
Nesse sentido, Geert Hofstede (1928 – 2020), um psicólogo holandês culturalista, criou uma tese baseada em cinco dimensões culturais após uma década de pesquisas e centenas de entrevistas realizadas em diferentes países usando uma vasta rede de dados de empresas – incluindo um importante estudo com funcionários da IBM de 40 países, entre 1967 e 1973.
Mais tarde, Hofstede incluiu na tese mais uma dimensão cultural a partir de pesquisas sobre os povos orientais. Com vocês, as Seis Dimensões Culturais de Hofstede:
1 – Distância ao poder:
Distingue os níveis de hierarquia aceitos na sociedade.
A solicitação de feedback e participação dos subordinados (“empowerment”), frequentemente usada nos EUA e Canadá – países com pouca distância hierárquica, é vista como um sinal de fraca liderança nos países de grande distanciamento de poder, como no Leste Europeu e Norte da África. Gestores russos, árabes e até mesmo os brasileiros, por exemplo, preferem autoridade centralizada.
2 – Individualismo x Coletivismo:
Contrapõe a importância do indivíduo X a importância do grupo.
As empresas australianas (individualistas), por exemplo, frequentemente buscam formas de se diferenciar, enquanto na Indonésia (coletivistas) as empresas tendem a convergir para posições defensivas.
As sociedades individualistas tendem a ser mais empreendedoras, pois empreendedores geralmente estão dispostos a correr riscos. Já nas sociedades coletivistas, os níveis de empreendedorismo tendem a ser mais baixos.
3 – Masculinidade x Feminilidade
Em países de elevada masculinidade, os “bons” gestores são assertivos, decididos e “agressivos” (só nos países masculinos esta palavra tem uma conotação positiva). As empresas podem ter uma vantagem relativa em produções em massa, como, por exemplo, no Japão.
Em países de elevada feminilidade, os gestores são menos visíveis, mais intuitivos. Empresas podem ter vantagem em produções de baixa escala e em serviços tailor made (ex.: Suécia e Noruega).
4 – Aversão à incerteza:
Identifica e avalia a tolerância em situações incertas ou ambíguas.
Gestores em países com baixa aversão à incerteza (Índia, por exemplo) usam a experiência para tomar decisões. Já gestores em países com elevada aversão à incerteza (p. ex., Brasil) usam as regras e os procedimentos.
5 – Orientação de Curto Prazo x Orientação de Longo Prazo
Culturas orientadas para o longo prazo privilegiam a perseverança e a poupança para o futuro. Exemplo: empresas japonesas e coreanas preferem privilegiar a quota de mercado ao invés dos lucros a curto prazo – a Matsushita tem plano de negócios para os próximos 250 anos.
As empresas ocidentais preferem lucros a curto prazo.
6 – Indulgência:
Reflete o grau de controle que as pessoas colocam em relação aos seus impulsos e desejos.
Países com alto grau de indulgência tem maior tendência a satisfação de seus impulsos e desejos. Tendem a ser mais otimistas e informais. Já as sociedades com baixo índice de indulgência são mais conservadoras e introvertidas.
Há quem coloque o tema apenas no campo da geração de empatias. Para outros, a questão é séria, de respeito as tradições e a história. Ainda tem o time dos sabidos e curiosos, mas que não vão aplicar nada disso em suas rotinas. Não importa. Se ambas as partes têm o mesmo objetivo, qualquer dado pode fazer a diferença para que os dois lados se entendam.
Quando Hofstede defendeu sua tese a globalização ainda estava longe de ser entendida como ideia clichê na qual hoje acabou se tornando em razão da disrupção causada pela revolução tecnológica e Hofstede, lá atrás, nem tinha consciência de que o futuro se tornaria passado tão rápido. Ao mesmo tempo, ele sabia que a diversidade cultural não perderia sua relevância como fator-chave a ser gerido nos negócios, conflitos e nos relacionamentos interpessoais transnacionais como um todo.
E você? E eu? O que somos capazes de antever quando o assunto é ser efetivo e respeitoso nas relações pessoais e profissionais que balançam entre realidades e interesses culturalmente tão diferentes dentro de um mesmo negócio ou negociação? Bonŝancon!
Boa sorte, em Esperanto, idioma criado em 1887 pelo médico judeu Ludwik Lejzer Zamenhof para ser a língua franca internacional da Terra.